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[ recortes de inconformismo ]

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propósitos

Renúncia Inconformada, que, num desespero esforço de encontrar os secretos tesoiros da unidade eterna, às vezes os leva a meter um cartucho de dinamite nas pedras veneráveis, a ver se elas resistem à inquietação do presente. MT

terça-feira, fevereiro 16, 2010




"Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade.

Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.

Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado.



Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.

(...)"

Mário Crespo


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Inconformado at 1:41 da tarde

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quinta-feira, fevereiro 11, 2010

SOU SIMPLESMENTE UM ATEU, QUE NEM SEQUER É CAPAZ DE CONCEBER, MESMO SÓ COMO CONSTRUÇÃO MENTAL, A POSSIBILIDADE DE UM DEUS

(...)

Quando disse com grande escândalo, que já não celebro o 25 de Abril, a questão é: porque merda tenho que celebrar o 25 de Abril? Tenho um imenso respeito pelas pessoas que o fizeram, mas um enorme desprezo pelas pessoas que o desfizeram.

Hoje temos uma censura que se entranha na pele. Há uma auto censura voluntária, ou melhor, resignada. A auto censura de antes do 25 de Abril tinha uma grande diferença: não era resignada. A censura que sabíamos estar lá fora à nossa espera condicionava a expressão do pensamento, mas a nossa atitude em relação à necessidade de nos auto censurarmos não era de resignação. Não quer dizer que fôssemos melhores jornalistas do que somos agora, mas havia uma diferença imensa. Tínhamos contra quem lutar. Agora, embora se saiba contra quem deveríamos lutar, luta-se pouco.

José Saramago, escritor de 82 anos
In ÚNICA

Inconformado at 6:04 da tarde

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sábado, janeiro 23, 2010

THIN-SLICING

Esta nova estratégia faz parte daquilo a que se chama agora thin-slicing, uma táctica que, rápida e efectivamente, capta a natureza do todo através de uma fatia minúscula da pessoa, do consumidor. É uma espécie de recolha de primeiras impressões elevadas a níveis científicos. Os animais há muito que o fazem. Cheiram e compreendem. Os médicos observam os sintomas e percebem a agonia. E, num jantar de amigos, basta olhar para a linguagem do outro casal para que fique claro em que estado se encontra aquela relação.

Todos nós já usamos, intuitivamente, o thin-slicing. Agora, o capitalismo de ponta adoptou a mesma esperteza. Junta uma palavra escutada ao telefone, combina-a com as compras que fizemos com o cartão de crédito e, zás, o que somos passou a ser do domínio público.

Rui Henriques Coimbra in ÚNICA
Em Los Angeles

Inconformado at 8:05 da tarde

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quinta-feira, janeiro 21, 2010

LIBERDADE E GENTLEMANSHIP

Popper explicava que esse era o código do gentleman, obviamente um homem livre e homem de carácter. Rudyard Kipling expressou esse carácter do home livre no poema IF. Edmund Burke tinha captado o memos espírito ao afirmar que "o Rei pode fazer um nobre, mas não um gentleman".

"SE ALGO MEXER, APLIQUE-LHE UM IMPOSTO; SE CONTINUAR A MEXER, APLIQUE-LHE UM REGULAMENTO; SE PARAR, DÊEM-LHE UM SUBSÍDIO".

Contra o espírito da gentlemanship, o século XX assistiu, quase indefeso, à investida furiosa da contracultura niilista, originária dos dois fanáticos alemães do século XIX: Marx, à extrema-esquerda, e Nietzsche, à extrema-direita.

De mãos dadas com a contracultura, cresceu o culto da centralização e do Estado, e a mentalidade controladora dos burocratas. Esta mentalidade foi imortalizada pelo sarcasmo de Ronald Reegan: "If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate. If it stops, subsidize it".

A liberdade funciona. É altura de parar esta mentalidade estatista, escreveu o irlandês Pat Cox, ex-presidente do Parlamento Europeu, numa espécie de carta aberta ao novo Presidente da Comissão, José Manuel Barroso, publicada por "The Wall Steet Jornal", no dia 20 de Janeiro. "A EU presica de um sério debate não sobre harmonização fiscal - que espalha o vírus do fracasso- mas sobre a redução dos impostos que possa libertar a escolha de consumidores e investidores e estimular a economia europeia".

"Freedom Works", concluiu Pat Cox. Era bom que ele explicasse isso aos nossos partidos políticos lhes desse um conselho: baixem os impostos e deixem os portugueses trabalhar em liberdade.

MAR ABERTO coluna de João Carlos Espada in CARTAZ - Expresso 2005

Inconformado at 9:05 da tarde

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sexta-feira, fevereiro 11, 2005

ESTADO CRÍTICO

ZANDINGA REMIX (1)


O ano de 2005 será marcado pela inesperada vitória do Partido Socialista. Sem a maioria absoluta. Sócrates promete governar com responsabilidade e convida o Bloco para formar governo. Santana e Portas não toleram a afronta e saem para a rua. Sampaio, visivelmente agastado com a crise, inicia audições: começa pela Fnac, passa pelos coliseus de Lisboa e do Porto. No final, volta ao princípio e em discurso aos portugueses promete fazer novo discurso, desta vez perceptível para o cidadão comum. O cidadão comum não percebe o primeiro discurso de Sampaio e não comparece ao segundo.

Casa Pia. Carlos Silvino é condenado. Todos os restantes arguidos são absolvidos sob fortes aplausos públicos. Carlos Cruz, à saída do tribunal, é levado em braços pela população. Uma senhora, que meses antes insultara o apresentador com terminologia suína, declara, comovida: ?sempre acreditei nele?.

Pinto da Costa eleito presidente da Câmara Municipal do Porto. Lema da campanha: ?o porto é o meu relvado, carago?. Reinaldo Teles assume o pelouro da Cultura.

O Partido Comunista Português celebra 84 anos de existência. Como sinal de vitalidade, oferece a cada militantes um andarilho vermelho.

Final da taça UEFA em Alvalade. Sporting e Benfica entram em campo, dispostos a levar o troféu. Atrás deles, técnicos do Hospital Júlio de Matos. O jogo começa, finalmente entre Parma e Valência.

Os comentadores declaram a falência técnica, moral e até espiritual da Pátria. A Pátria responde, declarando a falência, moral e até espiritual dos comentadores.


ZANDINGA REMIX (2)


O ano de 2005 será marcado por eleições no Iraque (relativamente pacíficas) e início de conversações entre Israel e a Autoridade Palestiniana (relativo sucesso). Os opositores de Bush, que prometiam emigrar com a reeleição do homem, começam angustiadamente a olhar para Marte.

Armas nucleares descobertas no Irão. Chirac e Schoeder, em conferência de imprensa conjunta, negam a evidência com argumentos multiculturais. ?Uma arma nuclear em Teerão?. Schroeder concorda: ?Temos de respeitar as diferenças?.

Drama na ONU: Kofi Annan exibe sinais de competência. O escândalo ?Petróleo por Comida?, que permitiu o enriquecimento de Saddam e de altos responsáveis das Nações Unidas, da China, da França e da Rússia, é finalmente investigado a fundo. Não se apuram responsáveis. Mal apuram-se responsabilidades.

Saddam julgado por crimes contra a humanidade. Activistas do mundo inteiro marcham contra ? e relembram que Saddam, apesar das valas comuns com milhares de cadáveres, das guerras contra vizinhos ou minorias e da absoluta miséria que infligiu ao seu povo, não possuía armas de destruição maciça. O júri murmura ?é bem visto?. Sentença só em 2006. Se houver.

Durão Barroso reúne de emergência com comissários em Bruxelas. Agenda do dia: Darfur é ?genocídio ou matança?? Durão defende genocídio. Alguns comissários defendem matança. Empate técnico. Saída para almoço.


ZANDINGA REMIX (3)

O ano de 2005 será marcado pela inauguração da Casa da Música, símbolo do Porto 2001, que só funcionará em pleno nos últimos meses de 2007. Multidões enlouquecidas procuram entrar, confundindo a obra com um centro comercial. Multidão dispersada pela polícia. A polícia, confrontada com a qualidade estética da obra, começa então a carregar sobre arquitectos e convidados.

Walter Salles, entusiasmado com o sucesso de Diários de Che Guevara resolve filmar obra hagiográfica sobre a juventude de Mao Tsetung, Ever Hoxha e Ceausescu. Os três da vida airada relatam uma viagem de carroça pela Europa, onde Mão, Enver e Ceausescu dão os primeiros sinais de idealismo e psicopatia.

Primeiro Nobel da Literatura para o Zaire. A escritora Malinekka Buttuta vence sem concorrência à altura: Battuta é lésbica, descendente de escravos, vegetariana desde os treze e fundadora do partido marxista-leninista-trotskista-maoísta local. Apesar de nunca ter escrito um livro, vai a Estocolmo e agradece a honra com um discurso sentido, onde denuncia ?os constantes atropelos do homem branco?, sobretudo na estrada que liga a sua casa ao centro de Kinshasa.

João Pereira Coutinho
In Expresso

Inconformado at 8:59 da tarde

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terça-feira, fevereiro 08, 2005

A VIDA MERECE UMA ROSA...

"A violência contra as mulheres é toda e qualquer acção de
violência baseada no género, que resulte ou que possa resultar, em danos ou
sofrimentos físicos, sexuais ou psíquicos das mulheres, inclusivé ameaças de
tais acções ou privação sumária de liberdade, que ocorre na vida pública ou
privada."


(Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência
contra as Mulheres, ONU, 1993)


Inconformado at 11:36 da manhã

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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Chávez e os limites da democracia
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Hugo Chávez é uma mistura de presidente de uma república das bananas e de Robin dos Bosques, protegendo os pobres contra os ricos.
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Não espanta, por isso, que tenha ganho confortavelmente o referendo a que foi obrigado por aqueles que queriam a sua destituição. Chávez mobilizou os votos dos que vivem nas catacumbas da pobreza - que na Venezuela constituem a maioria.
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O coronel encontrou habilidosamente um sistema que poderá perpetuá-lo no poder. Ao contrário de outros caudilhos da América Latina, como Péron, ou de ex-comunistas como Lula, que apostaram ou apostam na industrialização, Chávez não aposta no desenvolvimento do seu país.
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Não investe o dinheiro que ganha com a venda do petróleo (e que não é pouco: a Venezuela é o quinto exportador mundial) na modernização das estruturas produtivas: distribui-o directamente pelos pobres.
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Assim, faz-se amar pelo povo. Mais simplesmente, condena-o à miséria, porque a sua única forma de acabar com a pobreza é promover o desenvolvimento. O dinheiro que não é aplicado de forma rentável desaparece como a chuva na areia.
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O Caso Chávez merecia um estudo sério. Porque mostra os limites da democracia: revela o modo como um demagogo pode conservar o poder satisfazendo o povo no imediato mas condenando-o a prazo.
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Há momentos em que os governantes têm de desgradar aos eleitores para garantir o futuro. Hugo Chávez não pensa assim: com o dinheiro do petróleo alicia directamente os eleitores, mesmo sabendo que, ao distribuir o capital em vez de o investir, está a compremeter o futuro do seu país e a eternizar a miséria.Como escrevia certeiramente no "PÚBLICO" Jorge Almeida Fernandes "a redistribuição sem investimento é um suicídio económico."Expresso_editorial

Inconformado at 10:31 da tarde

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